A hipovolemia ocorre quando as perdas de volume de líquidos extracelular (LEC) excedem a ingestão, gerando uma situação de desequilíbrio. Na hipovolemia, o déficit é de líquidos quando de eletrólitos simultaneamente, o que faz com que a proporção iônica sérica permaneça aparentemente sem alterações. Por esse motivo, a hipovolemia NÃO deve ser confundida com desidratação, pois esta última se trata da perda de líquidos isoladamente, o que acarreta em concentração sérica de sódio (Brunner, 2014).
Fisiopatologia:
A hipovolemia é, costumeiramente, decorrente da perda de líquidos orgânicos e ocorre de forma mais aguda quando a reposição hídrica é comprometida; mas também pode cursar mais lentamente quando o período de ingestão inadequada é crônico. As principais causas observáveia na prática clínica incluem:
- Vômitos;
- Diarreia;
- Aspiração gastrointestinal (GI);
- Sudorese;
- Ingestão diminuída de líquidos;
- Diabetes Insipidus;
- Insuficiência de suprarrenal;
- Diurese osmótica;
- Grandes hemorragias;
- Desvio de líquidos para terceiro espaço (o volume escapa do sistema vascular para o interstício ou para cavidades, como nos casos de grandes queimados, casos de sepse, derrame ascético, por exemplo.
Achados clínicos:
Quando a hipovolemia acontece de forma aguda, o paciente tende a manifestar sintomas típicos de choque hipovolêmico como:
- Pele fria, pálida e pegajosa;
- Hipotensão;
- Aumento da frequência cardíaca como mecanismo de manutenção do débito cardíaco;
- Diminuição abrupta do débito urinário;
- Desorientação e síncope.
Já os quadros de hipovolemia menos dramáticos, têm como sinais e sintomas:
- Perda de peso;
- Turgor cutâneo diminuído;
- Oligúria e diurese concentrada;
- Hipotensão ortostática;
- Veias jugulares achatadas mesmo em posição deitada e pressão venosa central diminuída;
- Temperatura corporal aumentada;
- Sede;
- Perfusão capilar periférica retardada (> 2 segundos);
- Mal-estar, fraqueza e cãibras.
Ao laboratório, poder-se-á observar um hematócrito concentrado e desequilíbrio na relação urina: creatinina sérica com proporções maiores que 20:1. Esse acúmulo de ureia se dá porque a baixa volêmica compromete a perfusão renal e excreção desse substrato (Brunner, 2014).
Alguns casos específicos, a hipovolemia pode manifestar alterações de sódio e potássio, tanto com excesso, quanto com déficit desses íons a depender da causa de base:
- Hiponatremia: em casos nos quais a liberação de ADH está preservada, bem como o mecanismo de sede;
- Hipernatremia: perdas insensíveis exacerbadas (perspiração, perdas pela ventilação, etc) e no diabetes insipidus;
- Hipocalemias: em casos de perdas GI e renais;
- Hipercalemia: insuficiência adrenal.
Tratamento Clínico:
Quando a hipovolemia não é grave, pode-se considerar as reposições pela via oral, observando atentamente a capacidade e a disposição do paciente para a ingestão de líquidos. Já os casos moderados e graves, a via venosa se faz necessária para a reposição de soluções isotônicas (solução fisiológica a 0,9%, Ringer Lactato) capazes de promover expansão de volume plasmático e ajustar a pressão arterial.
Assim que se alcança a normotensão, uma solução hipotônica (solução fisiológica a 0,45%) pode ser um recurso útil para promover a excreção renal do excesso de escórias, desde que a função renal do paciente esteja preservada.
É de suma importância a implementação de um balanço hídrico rigoroso, avaliação atenta dos sinais vitais, dos sons respiratórios e da pressão venosa central, além do nível de consciência, coloração e estado da pele para detectar sinais de sobrecarga volêmica durante a terapia de reposição.
Exemplo de um Plano de Cuidado de Enfermagem voltado ao paciente acometido por pancreatite aguda
Diagnóstico de Enfermagem:
Volume de fluido insuficiente relacionados ingestão inadequada de líquidos e caracterizado por estado mental alterado, turgor cutâneo diminuído, hipotensão, taquicardia, diminuição do débito urinário, pele e mucosas secas, aumento da temperatura corporal, aumento do hematócrito, perda de peso, sede e fraqueza.
Prescrições de Enfermagem sugeridas:
Interromper sangramento, em caso de hemorragia exsanguinante;
Providenciar acesso venoso calibroso em situações de choque hipovolêmico;
Promover reposição hídrica por via parenteral;
Ajustar a velocidade da infusão de acordo com a gravidade do caso e reajustar imediatamente conforme o organismo for respondendo à reposição;
Verificar criteriosamente os sinais vitais, a ausculta pulmonar, o débito urinário, os exames laboratoriais e de imagem;
Promover reposição oral sempre que a hipovolemia não for grave e o paciente tolerar a ingestão de líquidos;
Implementar balanço hídrico rigoroso;
Atentar para perdas ocultas como sangramentos internos, por exemplo.
Resultado esperado:
Recuperará o volume de líquidos.