ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM AO PACIENTE EM RADIOTERAPIA

Definições importantes

O câncer é um processo patológico no qual o processo de proliferação celular está anormal e em que tais células assumem um caráter invasivo e disfuncional. Quando alcançam vasos sanguíneos ou linfáticos, as células tumorais disseminam-se para outras regiões do corpo, assumindo um caráter metastático.

Além disso, as células cancerosas têm a capacidade de induzir processos de angiogênese em prol da própria nutrição e de se transformarem em entidades malignas (carcinogênese).

O início do câncer acontece quando uma célula sofre uma mutação não controlada pelos sistemas de defesa do organismo, que provoca uma atuação anormal e reprodução desregulada. A carcinogênese pode iniciar-se espontaneamente ou ser provocada por agentes químicos, físicos ou biológicos e possui três etapas: iniciação, promoção e progressão.

Na iniciação ocorrem mutações do ácido desoxirribonucleico (DNA) nuclear. Em condições normais, tal distúrbio é revertido por mecanismos de reparo do DNA ou pela morte celular programada (apoptose) – se essa defesa falhar, a célula defeituosa se reproduzirá de forma descontrolada.

A promoção é a etapa na qual a proliferação e a expansão das células iniciadas têm suas expressões aumentadas e a manifestação das informações genéticas alteradas se replicam, após um longo período de latência. Por fim, a progressão é quando as células passam a exibir um comportamento cada vez mais maligno, assumindo as metástases.

O tratamento com Radioterapia (RXT) é utilizado em cerca de 50% dos pacientes em algum período de manejo do câncer. Ela tem ação:

  • curativa (CA de tireoide, cabeça e pescoço, colo do útero);
  • de controle de malignidades (quando o tumor é inoperável ou em casos de metástases);
  • alternativa neoadjuvante (prévio ao tratamento definitivo local, com ou sem quimioterapia);
  • profilática para evitar a disseminação celular de um CA primário para outros sítios (RXT de tumor cerebral para evitar infiltração leucêmica ou metástase pulmonar);
  • paliativa (alívio de sintomas em casos de disseminação para cérebro, tecidos moles ou ossos);
  • de tratamento de emergências oncológicas (síndrome da veia cava superior, obstruções de brônquios ou compressão medular).

Existem dois tipos de radiação: eletromagnética (raios X e gama) e particulada (elétrons, partículas beta, prótons, nêutrons e partículas alfa) – ambas causam ruptura celular e alterações diretas na estrutura do DNA, principalmente durante a sua síntese e na mitose (fase S inicial, G2 e M do ciclo celular).

Por esse motivo, os tecidos orgânicos mais responsivos à RXT são aqueles com mais frequente divisão celular (medula óssea, epitélios, tecido linfático e gônadas, por exemplo) e os chamados “radiorresistentes” são aqueles de crescimento lento ou de repouso (conjuntivos e musculares).

São considerados “radiossensíveis” os tecidos passíveis de destruição com doses controladas de RXT e que são capazes de se regenerar posteriormente. Além disso, tumores bem oxigenados tendem a responder bem a esse tipo de terapia.

A dosagem da radiação depende do tecido alvo, do tamanho do tumor, da tolerância tissular adjacente e das estruturas críticas no sítio a ser tratado. É chamada “dose tumoral letal” aquela capaz de erradicar 95% do tumor, embora preserve os tecidos adjacentes.

As alternativas de RXT são:

  • Teleterapia (radiação por feixe externo);
  • Braquiterapia (radiação interna);
  • Moldes sistêmicos (radioisótopos); e
  • Moldes de contato (ou de superfície).

Em todos os casos, a toxicidade da terapia é localizada na região irradiada, mas reações locais agudas podem ocorrer quando células normais locais também são destruídas e a morte celular excede a capacidade regenerativa da região.

São comuns reações tais como:

  • Alopécia (queda de cabelos);
  • Eritema (vermelhidão);
  • Descamação cutânea (seca ou secretiva, a depender da extensão da lesão);
  • Estomatites (lesões na mucosa oral);
  • Xerostomia (ressecamento oral);
  • Anemias, leucopenias e trombocitopenia (em RXT de MO).

Processo de Enfermagem voltado ao paciente oncológico

Diagnósticos de Enfermagem possíveis:

  • Risco para infecção relacionado com defesas inadequadas decorrentes da imunossupressão secundária à radiação;
  • Risco de sangramento relacionado à trombocitopenia secundária à radiação;
  • Integridade da pele prejudicada relacionada à radioterapia;
  • Mucosa oral alterada relacionada à radioterapia;
  • Fadiga relacionada à depleção energética causada pelo câncer.

Metas da Assistência de Enfermagem:

  • Prevenção de infecções;
  • Prevenção de sangramentos;
  • Manutenção da integridade da pele;
  • Manutenção das mucosas intactas;
  • Redução do cansaço e tolerância às atividades aumentada.

Os cuidados de enfermagem incluem:

  • Considerar o isolamento e medidas de precauções adicionais, de acordo com o status hematológico do paciente;
  • Impedir contato com pessoas portadoras/ em suspeita de infecções transmissíveis;
  • Evitar procedimentos invasivos e “desinvadir” o paciente o mais brevemente possível;
  • Avaliar criteriosamente sítios com potencial infeccioso;
  • Evitar alimentos crus;
  • Monitorar o paciente para sinais e sintomas de infecção com ênfase em sinais vitais e hemograma;
  • Obter cultura e proceder exame do tipo antibiograma, quando indicado;
  • Evitar o uso de sabões, perfumes, loções e cosméticos;
  • Utilizar água morna para higiene;
  • Evitar esfregar a região;
  • Proteger a região de exposição solar;
  • Evitar lavagem excessivamente frequente da pele;
  • Ensinar o paciente a evitar o uso de substâncias irritantes (colutórios, bebidas alcóolicas e tabaco, por exemplo);
  • Proceder a higiene oral com escova de dentes de cerdas macias e dentifrício não abrasivo;
  • Avaliar a cavidade oral frequentemente;
  • Aplicar lubrificante oral hidrossolúvel;
  • Evitar alimentos condimentados;
  • Se lesões, remover próteses, ofertar dieta processada e higienizar a boca cuidadosamente com Solução Fisiológica a 0,9% e gaze;
  • Incentivar ingesta proteica e calórica adequada;
  • Avaliar as experiências prévias e expectativas do paciente em relação a alopécia;
  • Ajustar a dieta e seu horário de acordo com a preferência e a tolerância do paciente;
  • Evitar visão, sons e cheiros desagradáveis no ambiente;
  • Recorrer a técnicas como distração, musicoterapia, biofeedback, relaxamento, imaginação antes e após as sessões de radioterapia;
  • Instaurar balanço hídrico e avaliar criteriosamente ingestão e excreção;
  • Promover rotina de sono e vigília adequada;
  • Ensinar o paciente a se programar para intercalar atividade e repouso;
  • Incentivar o paciente a pedir ajuda para os afazeres cotidianos e autocuidado;
  • Incentivar a participação nos programas de exercícios planejados.

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