Definições importantes
A síndrome da angústia respiratória aguda (SARA) é um tipo de insuficiência respiratória resultante de diversas doenças que causam acúmulo de líquidos nos pulmões e redução do oxigênio no sangue a níveis excessivamente baixos. Trata-se de uma emergência médica e pode acontecer em pessoas que já tiveram doença pulmonar ou em pessoas com pulmões anteriormente saudáveis.
Fisiopatologia
A SARA é caracterizada por edema pulmonar súbito e progressivo associado a hipoxemia. A diminuição progressiva no conteúdo arterial do oxigênio está associada à lesão pulmonar ou patologia pulmonar grave, insuficiência cardíaca esquerda e choque. O resultado é uma lesão da membrana alveolocapilar, extravasamento de líquido para os espaços intersticiais, shunt e redução da capacidade residual funcional.
Quando os pequenos sacos de ar (alvéolos) e os pequenos vasos de sangue (capilares) do pulmão são afetados, o sangue e os líquidos infiltram-se nos espaços entre os alvéolos e, por fim, passam para o interior destes. O colapso de muitos alvéolos (um quadro clínico denominado atelectasia) também pode ocorrer devido a uma redução de surfactante, um líquido que cobre a superfície interna dos alvéolos e ajuda a mantê-los abertos.
O líquido nos alvéolos e o colapso de muitos alvéolos interferem no movimento do oxigênio do ar inspirado para o sangue. Portanto, o nível de oxigênio no sangue pode cair bruscamente. A saída do dióxido de carbono do sangue para o ar que é expirado fica menos afetada, e o nível de dióxido de carbono no sangue muda muito pouco. Como a insuficiência respiratória na SARA resulta principalmente de níveis baixos de oxigênio, ela é considerada uma insuficiência respiratória hipoxêmica.
A diminuição do nível de oxigênio no sangue causada pela SARA e o vazamento para a corrente sanguínea de certas proteínas (citocinas) produzidas pelas células pulmonares lesionadas e por células brancas do sangue podem causar inflamação e complicações em outros órgãos.
A SARA normalmente se desenvolve de 24 a 48 horas após lesão ou doença original, mas pode demorar 4 a 5 dias para ocorrer. A pessoa começa sentindo falta de ar, geralmente com uma respiração rápida e superficial.
Fatores de Risco
Qualquer doença ou quadro clínico que lesione os pulmões pode causar SARA. Mais da metade dos indivíduos com SARA a desenvolve como consequência de uma infecção grave, generalizada (sepse) ou pneumonia. Algumas outras causas incluem:
- Aspiração (inalação) de conteúdo estomacal ácido para o interior dos pulmões;
- Queimaduras, inalação de grandes quantidades de oxigênio, fumaça ou substâncias corrosivas ou de outros gases tóxicos;
- Certas complicações gestacionais (como embolia do líquido amniótico, pré-eclâmpsia, infecção de tecidos no útero antes, durante ou após um aborto, entre outros);
- Traumatismos, afogamentos ou lesões graves ou potencialmente fatais;
- Cirurgia de grande porte;
- Inflamação do pâncreas (pancreatite);
- Ingestão e superdosagem de certas drogas ou medicamentos, como heroína, metadona, propoxifeno ou aspirina;
- Infecções localizadas (pneumonias bacterianas, fúngicas e virais, incluindo pela COVID-19);
- Pressão arterial baixa prolongada ou grave (choque de qualquer etiologia);
- Embolia pulmonar (gasosa ou gordurosa);
- Infecção grave e generalizada (sepse sistêmica);
- Acidente vascular cerebral ou convulsão;
- Distúrbios hematológicos como coagulação intravascular disseminada (CIVD), transfusões maciças (mais de 15 unidades de sangue em um curto período de tempo), bypass cardiopulmonar.
FONTE: Brunner & Suddarth
Clínica
- Dispneia intensa que se desenvolve entre 4 e 48h;
- Edema pulmonar hemodinâmico grave;
- Hipoxemia que não responde à suplementação de oxigênio;
- Redução da complacência pulmonar;
- Sintomas de insuficiência respiratória aguda.
Diagnóstico
Ao exame físico, observam-se retrações intercostais à inspeção e estertores à ausculta pulmonar. Laboratorialmente, pode-se detectar o aumento plasmático do Peptídeo Natriurético Cerebral (BNP).
Exames de imagem como radiografia pulmonar e os hemodinâmicos como ecocardiograma e o cateterismo da artéria pulmonar também podem evidenciar as alterações causadas pela SARA, sendo este último exame considerado método diagnóstico definitivo.
Tratamento
O enfoque principal do tratamento da SARA é a identificação e manejo adequados da causa de base. Cuidados de suporte agressivos servem para compensar a disfunção respiratória grave (intubação, ventilação mecânica, suporte circulatório e nutricional).
A terapia medicamentosa inclui corticosteroides, vasodilatadores pulmonares específicos, agentes inotrópicos. Podem ser prescritos, ainda, surfactantes e agentes antissépticos específicos.
Processo de Enfermagem voltado ao paciente acometido por SARA
Diagnósticos de Enfermagem possíveis:
- Troca gasosa prejudicada relacionada a agressão do parênquima pulmonar.
- Fadiga relacionada a processo inflamatório pulmonar.
- Padrão respiratório ineficaz relacionado à dispneia e redução da complacência pulmonar.
- Ansiedade relacionada ao comprometimento das trocas gasosas.
Metas da Assistência de Enfermagem:
- Otimização das trocas gasosas;
- Conservação da energia;
- Melhora do padrão respiratório;
- Redução da ansiedade.
Os cuidados de enfermagem incluem:
- Monitorização rigorosa dos sinais vitais em unidade de terapia intensiva;
- Administração de oxigênio;
- Preparo para intubação e ventilação mecânica;
- Avaliação rigorosa dos parâmetros ventilatórios e da resposta do paciente;
- Manter cabeceira elevada ou posição de pronação (conforme treinamento de time e protocolo institucional);
- Promover conforte e ambiente tranquilo;
- Auxiliar o paciente, familiares e cuidadores a implementar o plano terapêutico de acordo com suas rotinas particulares, propondo soluções estratégicas para seus problemas.