ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM AO PACIENTE ACOMETIDO PELA SÍNDROME DE GUILLAIN-BARRÉ

Lesão autoimune da bainha de mielina nos nervos periféricos capaz de levar a uma rápida desmielinização segmentar aguda dos nervos periféricos e de alguns nervos cranianos, a Síndrome de Guillain-Barré (SGB) é uma doença reversível porque a célula de Schwann, responsável pela produção de mielina no sistema nervoso periférico, é preservada, possibilitando a remielinização na fase de recuperação da doença.

A SGB produz fraqueza ascendente com discinesia (incapacidade de executar movimentos de forma voluntária), hiporreflexia e parestesia (dormência). Os agentes infecciosos mais comumente associados à síndrome são Campylobacter jejuni, citomegalovírus, vírus Epstein-Barr, Mycoplasma pneumoniae, H. influenza e HIV. Destaca-se que a síndrome também pode ser desencadeada após vacinação com vacinas de vírus vivo atenuado.

Fisiopatologia

A mielina, substância que recobre os nervos e que é responsável pelo isolamento e aceleração dos impulsos elétricos que vão do corpo celular para os dendritos. Na SGB, um ataque da imunidade celular e humoral do organismo contra proteínas da mielina dos nervos periféricos, demieliniza e inflama essas estruturas, causando o distúrbio. 

DiagramaDescrição gerada automaticamente

FONTE: Brunner & Suddarth

A teoria mais aceita na atualidade é a de que os organismos infecciosos imitam os aminoácidos mielínicos e o sistema imune passa a reconhecer aminoácidos próprios como agentes ivasores, atacando-os por meio da ação de macrófagos e de outros mediadores imunológicos capazes de comprometer a bainha dos axônios.

Manifestações Clínicas

O evento preciptante ocorre, normalmente, 2 semanas antes do início dos sintomas, que são,  tipicamente, fraqueza muscular ascendente e simétrica (que começa pelas pernas) e diminuição dos reflexos que podem evoluir até mesmo para tetraplegia. Se a demielinização alcançar o diafragma e os músculos intercostais, o paciente evolui com insuficiência respiratória neuromuscular. A duração clínica da SGB é variável e sua recuperação pode levar até 2 anos. Quaisquer disfunções remanescentes, após esse períodos, podem ser resultado de lesões mais profundas aos axônios, em vez de apenas à mielina.

A demielinização de nervos cranianos reverberam em manifestações de acordo com a função de cada um deles: se o nervo optico, pode levar à cegueira; se o glossofaríngeo, a incapacidade de deglutir; se o vago, disfunções autonômicas como instabilidades hemodinâmicas de frequência cardíaca e pressão arterial. A SGB, no entanto, não afeta funções cognitivas, nem nervosas centrais.

Tratamento

Devido a possibilidade de progressão rápida para insuficiência respiratória, a SGB é uma emergência médica que pode exigir tratamento em unidade de terapia intensiva, pois pode haver a necessidade de suporte ventilatório e mesmo ventilação mecânica (VM) para manter as funções vitais. Alguns especialistas recomendam, inclusive, intubação eletiva antes do início da fadiga extrema da musculatura ventilatória, uma vez que a intubação de emergência poderia resultar em disfunção autonômica.

Outra preocupação é relacionada à imobilidade do paciente no leito e o risco aumentado para eventos de Trombose Venosa Profunda (TVP), cuja profilaxia pode incluir terapia farmacológica anticoagulante e terapias não-farmacológicas de compressão mecânica (intermitentes ou meias simples).

A solução para o ataque autoimune, especificamente, é feita por meio da plasmaférese e de imunoglobulinas administradas IV, para diminuir a ação dos anticorpos (AC) agressores. Ambas as terapias reduzem sensivelmente a contagem desses AC e, consequentemente, o tempo necessário de VM e imobilização do paciente.

O risco de disfunção autonômica imposto pela possibilidade de desmielinização do nervo vago impõe a monitorização do paciente com eletrocardiograma (ECG) para avaliação da atividade cardíaca e de avaliação sistemática do status hemodinâmico do paciente.

Processo de Enfermagem voltado ao paciente acometido pela SGB

Diagnósticos de Enfermagem possíveis:

Padrão respiratório ineficaz / comprometimento da troca gasosa relacionados com fraqueza muscular rapidamente progressiva e iminência de insuficiência respiratória aguda.

Mobilidade física prejudicada relacionada à restrição no leito e paralisia.

Ansiedade relacionada à perda de controle e paralisia.

Metas da Assistência de Enfermagem relacionadas:

Melhora da função respiratória.

Aumento da mobilidade.

Redução / controle da ansiedade.

Os cuidados de enfermagem para pacientes acometidos por SGB incluem: 

  • Monitorar capacidade vital e força inspiratória.
  • Avaliar sinais de desconforto respiratório como intolerância a atividades e dessaturação, por exemplo.
  • Promover espirometria de incentivo, quando indicado.
  • Monitorizar o paciente com ECG e avaliar sistematicamente o traçado.
  • Avaliar estado hemodinâmico e potenciais disfunções autonômicas por meio de sinais e sintomas como hipo e hipertensão, bradi e taquicardia, principalmente.
  • Checar o tipo de terapia compressiva a ser implementada como profilaxia para TVP;
  • Proteger proeminências ósseas e promover mudanças de decúbito como profilaxia para o desenvolvimento de lesões teciduais por pressão;
  • Avaliar sinais clínicos e laboratoriais de desnutrição e desidratação;
  • Ajudar o paciente a lidar com os desconfortos relacionados à terapia e à síndrome, informando-o, na medida de sua possibilidade de compreensão e auxiliando-o no autocuidado, conforme sua tolerância;
  • Incentivar paciente a alternar atividades e repouso para evitar quadros de fadiga e intolerância à atividade.

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